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domingo, 17 de julho de 2016

Perdi...


"Perdi...
Todos nós perdemos...
Perdemos momentos, perdemos pessoas, perdemos coisas.
Perdemos sensações ou perdemo-nos em sensações.
Perdemos emoções e pensamentos, memórias...
Perdem-se poder na vida e até a própria vida.
Perdemos objetivos de inúmeras formas e intensidades.
Perdemos alma, coragem e esperança.
Perdemos escolhas, oportunidades... Quantas!
Perder, quão negativa essa palavra é, quão suspensiva se pode tornar; às vezes apenas perdemos porque sim, outras ficamos escravizadas à sua passagem.
Perde-se o éden, mas ganham-se a coragem das guerreiras, a perseverança dos sobreviventes, a instrução dos sensatos.
Enigmas que, nascidos de uma realidade fugaz, se imortalizam, sem se perder.
A vós mulheres."
Maria Manuela Pontes

Sugestão para leitura...
Título: Maternidade interrompida – O drama da perda gestacional
Organizadora: Maria Manuela Pontes
Editora: Ágora
Páginas: 216
ISBN: 978-85-7183-060-8
Atendimento ao consumidor: 11-3865-9890
Site: www.editoraagora.com.br 

Sobre a obra:
A obra reúne experiências singulares de mulheres, mães e guerreiras que compartilham suas histórias ao longo de quatro capítulos: “Filhos do silêncio”; “Tomar uma decisão, viver um conflito”; “Nascer para a eternidade”; e “Reflexos da perda”. São testemunhos intensos de uma dura realidade, que, silenciosa, clama por ser ouvida. Para aquelas que passaram pela perda, além de familiares e profissionais de saúde, a obra configura-se em grande apoio. As histórias revelam a necessidade de compartilhar a dor e de, por meio de uma espécie de catarse, sentir alívio e confiança para talvez tentar de novo.

Sobre a organizadora:
Maria Manuela Pontes nasceu em Chaves, Portugal, em 1971. Licenciada em Humanidades no ano de 1999, passou a lecionar Português e Latim em várias instituições públicas e privadas, profissão que exerce ainda hoje. Casou-se em 1997 e travou uma luta pela maternidade durante três anos. Após a experiência dramática da perda de dois filhos durante a gravidez, fundou a associação Projecto Artémis, com o intuito de apoiar todas as mulheres vítimas de perda gestacional. A Artémis é hoje uma das maiores organizações não governamentais na área, e oferece atendimento psicológico e aconselhamento às mães e a seus familiares. Para coroar sua luta, Manuela deu à luz Vitória, em 2002, e Mateus, em 2006.

(Poesia e sugestão de leitura enviada por Cristiane Araújo, mãe da Maria Antônia)



Homenagem a nossa amada Maria Antônia!

Sobre o Amor...

Meiga, serena, de pele clara e macia, de olhar tão doce e atento... É assim que vou me lembrar de você para toda minha vida, filha. E agradecemos a Deus por ter nos escolhido para acariciar e beijar tua pele, contemplar esse teu olhar, ainda que por tão pouco tempo...
E é a falta desse olhar que também hoje aperta o coração, porque a vontade de te ter em nossos braços é do tamanho do infinito... Minha pequena, como descrever essa dor que invade e insiste em ficar... Como preencher esse vazio que agora ficou... Como seguir a vida se a vontade é de parar o tempo para ter de volta aquele teu olhar...
Se por esse olhar nossa vida já valeu a pena, o que dizer de tudo o mais que aprendemos contigo...
Maria Antônia deixou muitos sinais para compreendermos que é o amor, a união, a paz, a cumplicidade, a reciprocidade que nos move nessa vida... E, em tão pouco tempo, nos ensinou o sentido da vida...
Nas noites em claro, nos dias sombrios, nossa princesa fazia questão de manifestar seu amor em nós com seus movimentos generosos e seus delicados chutinhos. Nossa bailarina, como carinhosamente o papai te chamou...
Por tua existência em nossa vida, hoje podemos dizer que somos testemunhas do amor incondicional. Sim Maria Antônia, você é nossa prova do amor incondicional e mais, do amor eterno... Nosso amor tem nome e endereço, ele se chama Maria Antônia e mora em nossos corações! Que pais privilegiados que somos...
Sinto-me tão pequena diante de tua grandiosidade, minha linda e amada Maria Antônia...
Não bastasse essa tua bela missão, ainda nos preparou para sermos pais e, junto com ele, os sentimentos de amor ao outro, de ternura, de entrega, de companhia, de responsabilidade, que carregam a maternidade/paternidade...
Nem precisamos mencionar mais nada para ratificar o “valor inestimável" que traz o significado de teu nome. Maria Antônia, nossa prova do amor incondicional, do amor eterno... Que esse amor perdure em nós e se espalhe nas pessoas que nos cercam. Espero honrar tua grandiosidade, minha filha, para em breve estarmos contigo...
Por fim, deixamos nosso agradecimento a todos que nos auxiliaram por esse tempo de encontro paradoxal, do encontro dos sentimentos extremos: da alegria acompanhada da tristeza, da felicidade da chegada com a dor da partida, do ter e perder um filho... O nosso profundo e sincero agradecimento as nossas famílias, aos primos, tios, amigos (não vamos citar nomes, porque a lista aqui seria enorme... e que maravilha ser assim, outro motivo para agradecermos a Deus...), ao blog Anjos sem Rins, a equipe da Medicina Fetal, do Centro Obstétrico e da Internação do Hospital Materno Infantil Presidente Vargas de Porto Alegre que conduziram o caso da Maria Antônia com um profissionalismo ímpar e, principalmente, por seus gestos, por sua voz e mão humana, o que nos fez sentirmos acolhidos por esse hospital grandioso que reservou esse espaço tão único e especial para o encontro com nossa amada Maria Antônia. Seremos eternamente gratos a vocês. Que Deus os abençoe! 


Um pouco da nossa história...

A gestação de nossa amada Maria Antônia estava dentro da mais feliz “normalidade”, até que no dia 22/12/15, com 18 semanas de gravidez, em um ultrassom para identificar o sexo do bebê, o inesperado bate a porta. Não apenas não foi possível identificar o sexo, como ainda soubemos que o líquido amniótico estava reduzido e que o prognóstico não era bom. O raro diagnóstico de Agenesia Renal Bilateral (confirmado no dia 29/12/15, com um especialista em feto) mudaria completamente o sentimento da nossa gestação.
Passados mais de dois meses entre sentimentos de culpa, injustiça, cobrança, perda de sentido da vida, de esconder a barriga para evitar o enfrentamento da realidade, entendi (com o apoio de todos que se envolveram com nossa história), ainda que não sem dor e de muitas e muitas e muitas lágrimas, durante e após esse período, que se tratava de viver uma experiência única com minha pequena, de uma relação que se configuraria apenas dentro de meu ventre. Assim, da não aceitação desse diagnóstico, compreendi que o melhor era enfrentar essa realidade e mais, viver cada dia como se fosse o último dia. As histórias de Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Maria Heloísa Penteado, Tatiana Belinky, Ziraldo, Liliana e Michele Iacocca, entre outros, começaram a fazer parte desse momento, pois contava todo dia uma história para ela ouvir, assim como também colocava algumas músicas, como aquela “Aos olhos do Pai” que a tia Simone indicou. Até os episódios da Peppa que assistíamos com a priminha Mariana eram colocados para ela escutar.
O tempo foi curto, para o tanto que queria viver contigo. Quantas coisas queria te apresentar... Na verdade, todas as coisas boas. Além das histórias contadas, quantas brincadeiras queria ter contigo, com o papai e as sapecas Pami e Luna nos passeios ao parque... e toda a emoção no cuidado em ser mãe... Essa é a dor maior, essa expectativa que é gerada antes mesmo da confirmação da gravidez, e que é quebrada, pois ao contrário das mães que se preparam para celebrar a vida, nós, mães de anjos, nos preparamos para a morte, para a despedida. Como li em algum lugar: “Ser mãe de anjo é viver de um passado que planejamos, do presente que foi roubado, do futuro que não existe mais”. Lorena, que conheci por meio do blog da Carolina, escutou de uma mãe o retrato dessa dor da perda: “a diferença de uma mãe que perde um filho com quem conviveu para uma que perde um filho que não conviveu é que a primeira tem saudades dos momentos vividos e a segunda dos momentos que gostaria de viver”.
Tão logo, diante desse outro olhar para com nossa gestação, já me cobrava, por que não aproveitei mais e melhor esse momento que já passou... E aí me dei conta da grande lição de vida que nossa pequena já estava nos passando... de preservar o que há ao nosso redor, que é nossa família, nossos amigos, o encontro consigo mesmo que muitas vezes evitamos com medo de reconhecermos que somos falhos, mesquinhos...
Minha pequena chegou para viver não só uma vida breve conosco, mas antes, e principalmente, para nos ensinar a estabelecer outra relação com a vida, com o amor, a encarar a vida diante da perda, diante da dor...  
Com 39 semanas e 1 dia, do inesquecível dia 09/05/2016, às 12h10min, de parto normal pélvico, Maria Antônia nasceu, pesando 2.475 gramas. Permaneceu em nossos braços por 2h com um olhar sereno, atento, amável e partiu para descansar nos braços do Pai. Não é possível descrever o que sentimos durante essas duas horas... é um sentimento que não cabe em palavras...   
Foi breve nossa relação, mas o bastante para viver o encanto da maternidade e sentir o amor em nossas vidas... Que o amor trazido por Maria Antônia prevaleça em nossas vidas.
E, por isso, por toda nossa vida, levantaremos as mãos aos céus por nos escolher como teus pais. Te amamos com todo o amor que há nessa vida!  
 

Por mamãe Cristiane e papai Samuel!