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terça-feira, 11 de junho de 2013

AUSÊNCIA...


UM AUSENTE
(Carlos Drummond de Andrade)



Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste..."


sábado, 1 de junho de 2013

Não tenho medo da morte... (por Marcela Oliveira, mãe do Lucca)

Não tenho medo da morte. Tinha... e muito.
Acredito que todos já passaram por esta reflexão... como é morrer? E será que morremos mesmo? Será que enterramos nosso corpo com tudo e ali permanecemos, ou, algo nos acontece antes e nossa alma se separa? Assunto complicado, não é?! Envolve crenças, religiões diferentes; mas no final, é tudo a mesma coisa - não há certeza. Porém se não nos apegarmos há algo e acreditarmos fielmente, enlouquecemos. Ninguém vive sem aceitar uma realidade, ainda que haja divergências.
Antes do Lucca, (acho que agora minha vida se resume em antes e depois do nascimento do meu anjinho) tinha aflição até em tocar no assunto. Pois se acreditamos no bem, temos que acreditar no mal, se temos a vida um dia teremos a morte. É, não era um assunto que eu"curtia" muito. A questão era: como eu vou morrer? Será que vai doer? Vai ser cruel ou vou estar dormindo? (...) Depois do Lucca, este tema tem se feito tão presente nas minhas conversas do dia-a-dia que me ponho em provação o tempo todo. Como posso ter medo de morrer se meu bebê lutou pela vida por duas horas sem ninguém poder fazer nada, pois infelizmente, esse era o seu destino. Com toda certeza, essa é a parte da história que mais me lamento.
Passamos tanto tempo reclamando da vida, mas com medo da morte... Acredito que vou viver, por viver este momento, agradecer por ter sido escolhida pelo Lucca e tudo que ele me ensinou. Vou ter outro filho ou filhos rsrs, e aí sim poderei sorrir novamente. Pois quando o segurei gélido, é que percebi o que é não ter vida e pude sentir que meu bebê não estava mais ali. Não tenho medo da morte pois na minha crença eu aguardo pelo dia que verei seus olhos brilharem por mim novamente, em um outro lugar. Sei que independente da dor que sentiu, agora ele brinca no colo de Jesus. Então, como mãe, tenho este pensamento: Posso aguentar a morte que Deus escolher para mim, independente do quanto doa; jamais será maior que a dor do Lucca antes de partir. E se um bebê tão indefeso foi capaz de tamanha força, nada será maior do que o que senti por ele.