Há dois anos atrás, no dia 18 de
dezembro, eu tive a confirmação da Agenesia Renal Bilateral do Arthur. Líquido
foi diminuindo, diminuindo, diminuindo e praticamente zerou. Às vésperas de
Natal e Reveillon, tive vontade de chegar em casa e botar fogo na árvore de
Natal. Comemorar o quê? Desejar “feliz” isso, “feliz” aquilo, quando eu
vivenciava o meu maior pesadelo, a minha maior angústia, minha maior dor...
Como pode um bebê não ter rins, gente? O que aconteceu pelo meio do caminho? O
que fiz de errado?
Vim para casa, mandei um e-mail
para todos os amigos e familiares e me isolei. Precisava pensar, precisava
estudar sobre o que era Agenesia Renal Bilateral, precisava esconder de mim
tudo o que havia comprado/ganhado para o Arthur. Lembro ainda hoje do pedreiro,
que faria obra no quartinho dele me ligando para fechar o orçamento e lista de
material do que íamos fazer. Complicado... Nada de obras mais...
Minha vizinha, toda alegre,
entregando um presente para meu bebê: como falar para ela que ele NUNCA brincaria
com o que ela havia comprado com tanto carinho? Difícil...
Começou a correria. Fui a outros
obstetras, fiz outras ultras... Na esperança de boas notícias e... Elas não
vieram. Não naquele momento.
No dia 07/01/11, meu reizinho não
estava mais fisicamente comigo. Ele partiu para os braços do Pai alguns dias
antes, mas o parto só aconteceu neste dia. E foi na sala do pré-parto mesmo,
após 20 horas de espera. Meu nome em letras garrafais e vermelhas no quadro do
corredor do centro obstétrico, com sinalização de NAT (natimorto...). As
enfermeiras com uma série de cuidados com o que falar e como falar comigo, já
orientadas pela minha obstetra. Que bom que não sou uma pessoa muito
melindrada, já que minha recuperação foi na “ala” de maternidade. Ao perceberem
a “gafe”, tentaram me transferir, mas eu disse que não havia necessidade. Às
vezes, é preciso doer no mais profundo do nosso eu... E a gente suporta o que
Deus tem de propósito para nós.
Em março de 2011 estava eu
tirando um mega cisto dermóide, descoberto ao longo da gestação. Fiquei somente
com metade do ovário “funcionando”. A cirurgia foi um sucesso. Fui liberada
para voltar aos treinos no final de maio. Mas, ia demorar...
Ia, mas não demorou... Engravidei
no fim de junho e em 25/07 já sabia que dentro de mim já habitava uma nova
vida! Medo, angústia, dúvida... Tudo isso pulsava. Mas a FÉ e a CERTEZA que
Deus não falha, era maior do que tudo.
A gestação foi aberta somente
para familiares e amigos muito próximos. Esperei completar 16 semanas para
contar para todo mundo. Alguns desconfiavam, mas não tinham nem coragem de me
perguntar...
Ao dar a notícia para algumas
pessoas, ouvi “boa sorte”, “você é muito corajosa” e outras frases que nunca se
diria para uma gestante, a não ser para alguém que passou o que eu vivenciei. É,
as pessoas nem sempre têm muito tato...
Como todos já sabem, em março
deste ano, minha Cecília nasceu. Perfeita, saudável, linda, moreninha como o
Arthur!...
Entre março e maio de 2013
nascerão...
- Maria Eduarda, irmã do anjo Bernardo, filhos de Fabio e Gleice (RJ)
- Nathanael, irmão do anjo Nathan, filhos de Alexandre e Adria (SP)
Hoje, dia 18 de dezembro, após
dois anos, vejo que a vida caminhou... E muito! Só tenho a agradecer a Deus! A
árvore já está devidamente armada e enfeitando a sala (aquela mesma árvore que
eu queria queimar...rs). Cecília amou!
Do Arthur fica a saudade... De
tudo que poderia ter sido e não foi... E o meu desejo de ser perdoada por ele,
onde que esteja, pelo misto de sentimentos que vivenciamos juntos... Um amor
infinito, permeado pela vontade de que tudo aquilo terminasse rápido. “Devia
ter amado mais / Ter chorado mais / Ter visto o sol nascer”...
Mas, “cada um sabe a alegria / E
a dor que traz no coração”. Cada uma de nós sabe o quanto doeu e o quanto ainda
dói. Uns dias mais, outros menos...
“A cada um cabe alegrias / E a
tristeza que vier”... E a esperança que dias melhores sempre virão!
E deixa eu correr para postar
logo, antes que o dia 18 acabe...rs! Um Natal feliz e abençoado para todas as
famílias. E, em especial para aquelas que passarão por essas “festas” com seus
anjos sem rins ainda no “ventre”, lembrem-se...
O coração do homem pode fazer planos,
mas a resposta certa dos lábios vem do SENHOR. (Provérbios
16:1)
Que 2013 venha cheio de boas notícias
e que saibamos esperar em DEUS sempre! E perdoem minha ausência, em determinados
momentos: um bebê vira a vida da gente de cabeça para baixo...rs! É um amor que
parece não caber no peito...
Com carinho,
Carolina
PS.: Um abraço muito especial para a
Lorena Azevedo, que me encorajou a criar o blog. E outro também especial para a
Fabiana Pompeu, nossa colaboradora.
Olá, Carolina. Hoje faz 10 dias que recebi a notícia que meu bebê tem agenesia renal bilateral. Nunca imaginei que seria tão difícil passar por isso. Nunca imaginei passar por isso...O seu blog tem me ajudado muito. Os médicos informaram que a decisão a ser tomada é sobre interromper (com ação judicial) ou seguir com a gestação. Já decidi seguir com ela. Estou com 23 semanas de gestação. Tenho muitas dúvidas. A principal delas é justamente sobre o momento do parto. Como vou saber que a hora chegou? Como saberei se ele continua bem dentro de mim? Sinto-o mexer, mas não é muito intenso. Você poderia citar como percebeu, se foi por não sentí-lo mexer mais? Com qual frequência você fez ultra após saber do problema?
ResponderExcluirMais uma vez parabéns e obrigada pela iniciativa de criar o blog. Mari
Olá Mari, meu nome é Daniela, também tive um bebê com agenesia renal bilateral que nasceu e faleceu no dia 11/04/12 com 28 semanas. Primeiramente gostaria de lhe dizer q sinto muito por vc e seu bebê. Q vc foi mto forte em decidir levar sua gravidez até o final, q tudo em nossa vida tem um propósito e somente Deus sabe o pq fomos escolhidas para carregar em nossos ventres bebês tão especiais. Passei por muitos de médicos e tambem fui aconselhada a interromper, decidi manter a gravidez até o final e só tenho a agradecer a Deus por todos os momentos lindos q passei com meu filho em minha barriga. Me envie seu email para conversarmos se quiser, o meu é danimaia6@hotmail.com. Estarei a disposição. Um grande beijo, q Deus te acompanhei.
ExcluirMari,
Excluirvocê continuará o acompanhamento gestacional "normalmente". Eu fazia ultras semanais acompanhando o líquido. Quando confirmamos a agenesia, com 18 semanas, fiz a morfológica pelo meu plano e mais uma particular, atestando o diagnóstico. Com 23 semanas, Arthur veio à óbito. Após 20 semanas, sentia ele mexer muito pouco. Sem líquido, fica difícil a movimentação ativa do feto. O obstetra vai avaliar a melhor hora para o parto, normal ou cesárea. Pelo que vejo, a maioria das mães começa a ter dilatação por volta de 32, 34, 36 semanas. Avalie sempre com o seu médico. O parto normal viabiliza uma próxima gestação após 4 meses, em média. Arthur foi à óbito em janeiro e em junho eu engravidei da Cecília. Se precisar de informações, estou sempre por aqui.
Dani,
caso precise de informações, estou por aqui.
Carol e Dani, muito obrigada pela ajuda. Conversar com pessoas que já passaram pelo que estou passando me dá um sentimento de força muito grande. Muito obrigada mesmo. Continuarei mantendo contato e atualizarei vocês sobre a minha gestação. Abraço. Mari
ExcluirOi Mari! Tive um bebê com Agenesia Renal Bilateral em maio deste ano. Se precisar de mim estarei aqui. Bjsss
ExcluirFabiana (fabiana.pompeu@gmail.com)