Em julho de 2010 após inúuuuuuuumeros exames eu e meu marido resolvemos parar o anticoncepcional e tentar uma gravidez. Estávamos completando 01 ano de casados e achamos que o processo seria um pouco demorado, já que eu fiz uso de remédio por MUITOS anos. Em 31 de agosto eu já estava com o resultado POSITIVO em mãos, para nossa surpresa. Arthur ou Cecília a caminho!
Num susto, com 06 semanas foi diagnosticado que eu tinha um cisto no ovário direito... Muita apreensão!... Porém, com 12 semanas, já tínhamos o diagnóstico: era um cisto dermóide, benigno e que seria retirado junto à cesárea. Infelizmente, não poderia tentar o parto normal. Mas, com o bebê, meu bem mais precioso e importante, estava tudo MUITO BEM! O cisto em nada afetaria seu desenvolvimento.
Com 12 semanas tive um sangramento muito leve e fiquei uma semana de repouso relativo: a placenta estava um pouco mais baixa que o normal, mas rapidamente voltou a sua localização “correta”, digamos assim. Tudo normal na medida da translucência nucal, duas mãozinhas, dois pezinhos e... um menininho!! Nosso REI ARTHUR se desenvolvia a todo vapor!
Com 16 semanas, foi verificado pouco líquido amniótico (oligodramnia – 55mm). Arthur já mexia bastante... Ingeria 04 litros de água por dia, repouso e ultras quase semanais. Nada adiantou... Entramos num estado de oligodramnia severo, com 34mm... Eu não perdia líquido, mas o bebê não o produzia. O que seria?
Com isso, no dia 18/12, através do doppler colorido foi detectada a ausência dos dois rins, como má formação congênita. A quantidade de líquido não podia ser “medida”, era muito pouco...
Mesmo assim, Arthur continuou se desenvolvendo normalmente, com medidas normais para a idade gestacional e batimentos cardíacos normais. Só praticamente não se mexia mais pq não havia líquido para "flutuar"... Em termos clínicos, ele apresentou...
"1. Agenesia Renal Bilateral
Quase sempre associada ao feto severamente oligodrâmnio (pouco líquido amniótico), pois o feto sem rim não produz urina e conseqüentemente líquido amniótico. Está associada a malformações de outros aparelhos e sistemas (respiratório, gastrointestinal, ósseo, nervoso), como ocorre na Síndrome de Potter."
Já sabíamos desde então que não haveria chances de sobreviver, porque não possuía nenhum dos dois rins. Mesmo que nascesse com vida, não sobreviveria. Isso acontece em 1 a cada 5000 nascimentos, com mais freqüência em casos em meninos. Assim como a anencefalia, é incompatível com a vida humana...
Entramos então na correria: busca por outros obstetras no Rio, ultras em locais caríssimos, amniocentese (impossível, não havia líquido), cordocentese, coleta de material do cordão umbilical para análise gênica, enfim... O diagnóstico estava corretíssimo e não havia nada que pudéssemos fazer... A não ser aguardar que o coraçãozinho parasse de bater...
O bebê ficou taquicárdio, a mamãe também (metabolizando por dois) e assim passamos Natal, Ano Novo... A barriga crescendo, meu marido fazendo uma “barreira” para que ninguém me perguntasse nada... Vivendo um dia de cada vez e preparando para a despedida. Monitoramento de batimentos fetais todos os dias... Um processo doloroso e sofrido...
Arthur nos deixou com 23 semanas, entre os dias 04 e 05/01/11, internei no dia 06/01 e após 19 horas em trabalho de parto ele “conheceu” (mesmo sem vida) esse nosso mundo. Tive febre, reações à anestesia, passei muito mal e meu marido não saiu do meu lado de jeito nenhum... Me consola saber que hoje meu pequeno grande ARTHUR está num lugar muito melhor que nós... Ele nasceu com 480 gramas... Um milagre aconteceu... como um feto sem rins cresceu tanto?! Doutora Heloísa, Doutor Norival e a equipe da Casa de Saúde São José aqui no Rio de Janeiro foram excelentes e cuidadosos com toda a situação. Lembro-me bem de uma enfermeira (Alessandra) que me contou a perda de sua bebê com 03 meses de gestação, mas que hoje tinha uma menina LINDA e levada! Na minha saída do Centro Obstétrico ela falou para mim: “tenho certeza que em breve nos veremos novamente, numa situação muito diferente dessa...” Deus te ouça, Alessandra!
Agora estamos no aguardo da análise patológica do feto, extração do DNA do sangue do cordão umbilical em Campinas e análise gênica que será feita em Curitiba. Investigaremos TUDO o que pudermos.
Enfim, não é possível explicar o que não tem explicação... Ainda não tenho condições de falar muito sobre tudo o que aconteceu e peço as orações e preces de todos por mim, por minha família e por meu anjinho que hoje está no céu olhando por nós... Como já dizia Samuel Rosa em uma música do Skank... “em paz eu fico onde estou, prefiro continuar / Distante...”
Creio em Deus, em seus propósitos e tento todos os minutos aceitar tudo o que aconteceu... Por que eu? Porque acho que sou a pessoa mais forte do mundo, já que passar por essa situação não é para qualquer pessoa... Realmente é de “endoidecer gente sã”, já cantava Renato Russo. E agradeço a ELE por minha família, que esteve o tempo todo ao meu lado, especialmente ao meu marido, que ficou em trabalho de parto comigo, tentando conduzir a situação da forma mais bem humorada e “leve” que conseguiu.
“E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o SENHOR o deu, e o SENHOR o tomou: bendito seja o nome do SENHOR”. (Jó 1:21)
Que assim seja...
A saudade não cabe no peito e transborda nos olhos a todo instante... Mas sei que situações raras são dadas a pessoas especiais e hoje pensamos que esse é o propósito de Deus em nossa vida!
Que nosso rei Arthur esteja no colo do Deus Pai, já que, a Seus olhos, ele é mais do que perfeito!