Olá!
Sou Camila Jales casada com Rômulo e somos pais de Rômulo Filho e João
Gabriel, fiquei pensando muitas vezes se deveria escrever ou não sobre João
Gabriel nós que passamos por isso sofremos com muitos questionamentos
além da perda do filho. Mas mesmo com tudo isso escolhi escrever pois se
não fosse por essas mães(blogger anjos sem rins e do meu amado grupo do
whatasap) que tiveram coragem de compartilhar suas histórias, eu não teria
conseguido atravessar essa ponte. Digo ponte porque comecei como uma
pessoa e hoje sou outra.
Descobri que estava grávida com 3 semanas, finalmente estava chegando o
irmão tão esperado de Rômulo Filho, meu segundo filho, sempre quis ter 3 filhos
rsrsrsrsrs, aguardamos chegar 8 semanas para contar pra ele, uma
sensação maravilhosa, perfeita, feliz, ele ficou muito feliz e começamos a fazer
milhões de planos, levamos ele para ver o irmão na ultrassom, ele ficou admirado,
eufórico, ficava olhando para minha barriga tentando entender.
Muito divertido e foi até o fim nesse aspecto, o laço que foi criado entre eles.
Mas tudo começou com 16 semanas de gestação foi levantada a suspeita e
com 20 semanas foi confirmado o diagnóstico do meu anjo, infelizmente agenesia
renal bilateral, os médicos explicaram tudo,nesse caso o bebê falece por
hipolasia pulmonar, já que não há líquido os pulmões não se desenvolvem e
não conseguem dar suporte na hora do nascimento.
O que senti foi apenas anestesia no corpo, levamos muito tempo para digerir,
tudo mudou. E a pergunta que eu mais fazia pra mim mesma, como podia um ser
em plena formação não viver?
essa pergunta nunca terá resposta, pois a vida e a morte pertence a Deus.
E em busca de entender todas as informações que chegavam resolvemos
conversar com uma tia de Rômulo que é médica sem contar que é uma pessoa
maravilhosa, ela foi a primeira pessoa em que conversei abertamente sobre o
que estávamos passando e graças a Deus tudo que ela falou foi de extrema
importância, conversamos sobre a perda do filho, sobre o luto, a gestação, sobre
tudo que ia acontecer com meu filho e principalmente para eu buscar
ajuda com outras mães, pois só quem passa que realmente entende.
Deus sempre coloca os amigos no lugar certo, uma amiga indicou uma
ginecologista que me encaminhou para o Instituto Fernandes Figueira, um centro de
malformações fetais no Rio de Janeiro, recebemos todo o tipo de suporte, GO,
pediatra, psicólogos, assistentes, geneticistas.
Nesses casos de incompatibilidade com a vida fora do útero, algumas
instituições tem jurisprudência para autorizarem o aborto, sempre fui contra o
aborto, mas entre tantas ida e vindas dos meus sentimentos, conflitos e
principalmente pela dor que eu iria causar na vida de Rômulo Filho no
momento que tudo fosse se consumar, eu pensei muito em fazer, mas eu não seria
capaz de fazer, mais mesmo assim dei entrada no processo e recebi a
autorização, quando eu recebi o documento eu fiquei bem, mais uma vez me senti
acolhida, na verdade me senti compreendida.
Eu e Rômulo tivemos reações bem diferentes sobre tudo isso, pensamos em ir
embora ficar perto da família, tantas questões foram levantadas e mesmo sendo
complicado de compreender, conseguimos alinhar todos os sentimentos
e ideias para levar tudo da melhor forma possível e nós mais uma vez
superamos juntos.
Infelizmente a sociedade tem uma grande dificuldade de falar sobre a morte,
todas as vezes que as pessoas perguntavam quando meu filho ia nascer ou qual
era o sexo e eu falava do que estava passando, o mínimo que eu
encontrava era o silêncio. Quando eu queria escutar o coração dele na ultra os
médicos ficavam chocados, meu filho mim ensinou algo muito forte, a morte não
podemos vencer mas as lembranças da vida podem ser as melhores.
Quando eu contava para as pessoas do que nos estávamos passando elas se
afastavam fisicamente, ficava muito triste por que no fundo queria que ele fosse
acolhido, pois morre nunca foi um problema é uma jornada que todos nos
vamos passar.
Mãe e filho juntinhos, coladinhos, vivendo da forma mais caloroso possível,
percorri a gestação inteira, passeando, rindo, namorando, deixando Rômulo Filho
conviver com seu irmão, tirando fotos, pois uma certeza sempre tive na
minha vida, eu vou morrer feliz, rsrsrsrs, com João Gabriel não seria diferente,
conversei tanto com ele sobre tudo e principalmente sobre a partida, sou estranha
mesmo. Uma mãe nunca deve deixar um filho sofrer sem entendimento, devemos
acompanhar o filho nas dores, mas não podemos deixar o desespero bater a nossa
porta, pois são eles que vão passar por suas próprias provações.

Durante a gravidez passei por muitas emoções e para mim a mais dolorosa foi
contar para Rômulo Filho, muito angustiante levar uma frustração assim para um
filho, algo que nós nem temos explicação, a morte e ainda mais a
morte do irmão, para minha surpresa ele reagiu muito bem com toda
espiritualidade que há nele, vi mais uma fez que Deus não falha.
Seguimos com uma gestação normal sem intercorrências, o médico falava que
ele não iria se mexer muito, mas foi tudo ao contrário passava longas madrugadas
chutando minha bexiga, muito gostoso, e todas as vezes que
Rômulo Filho falava ele ficava quietinho, só escutando. E a madrinha por
direito dele, ele gostava muito quando minha madrinha alisava minha barriga, se
mexia muito e minha mãe também.
Tudo bem e caminhamos para um parto normal.
Quando completei 30 semanas já não conseguia sentir sentido nas coisas,
tentava de tudo para manter as coisas mais organizada, ficava envolvida com
Rômulo Filho, mas não dava mais, meu filho ia nascer e partir, a tristeza foi
chegando e eu precisei aceitar, pulsava dentro do meu útero o coração do meu
bebê do meu menino, meu pequenino, que partiria. Desloquei mãe, sogra,
madrinha, queria companhia mesmo tendo dias que literalmente só queria
sumir, mas não podia cansar ele precisava de me na melhor forma possível
para completar sua jornada aqui na terra. E papai fazendo um monte de viagens
para passear e deixar mamãe e bebê felizes :) foi bem mais fácil.

Em todas as consultas sempre a mesma pergunta e ai doutora estar perto? e
nada dele querer chegar, mas com 38 semanas ele resolveu chegar, 04/02/2017,
arrumei uma bolsa para ele levei roupa a do irmão, os caminhos de Deus
nós não conhecemos.
E assim fomos um dia longo de trabalho de parto, contrações, angústias, mas
a certeza que fiz da melhor forma o inagimável, dia 05/02/2017 ele partiu nascendo,
seu corpinho pequenino quentinho em meus braços todo enroladinho,
a primeira coisa que falamos quando ele nasceu e olhamos foi Rômulo Filho,
extremamente parecido com o irmão, cara de um focinho do outro, lá nos
despedimos com um único abraço.

Explicação não há, falar o que aprendi também não há como, pois ainda estou
aprendendo, aprendendo, é uma presença em minha vida que todos os dias rasga a
minha alma, coloca pelo avesso, muda todos os meus entendimentos e me
renova com os sentimentos mais plenos e belos que podem existir, ele me deu
plenitude das minhas convicções, um novo despertar, é uma benção.
E continuamos nossa caminhada assim cada um na sua casa, mas ligados
pelos laços eternos da alma, ele senti o que eu sinto e vice-versa então cuidar do
coração, das palavras , dos atos, alimentar a vida da melhor possível
para ele ficar feliz é o que eu tenho feito, assim compreendemos a jornada de
cada um.
Para as famílias que estão passando por esse caminho não se desesperem,
Deus nos dar entendimento para nossas provações e compreendam que a partida
( apenas um até logo) também faz parte de ser mãe e pai.
(TEXTO ENVIADO POR CAMILA JALES)